Sunday, October 22, 2006

Is it day already?


Aaaaaahhhhhhhhh (som do espreguiçar, acompanhado da inevitável distensão de braços ao alto) pois é. No grande dia do julgamento, após terramotos e maremotos, dilúvios de fogo e enxofre, quando o vosso humilde escriba estiver finalmente diante do trono de marfim, com anjos e hosannas e trombetas e selos and all that apocalyptic shit; quando o Eterno e Omnipotente Criador sacar do seu power point celestial, e me mostrar o miserável slide show da minha vida; quando for confrontado com a tabela de gráficos em excel, demonstrando para lá de qualquer duvida que excedi claramente os valores adequados para uma estadia ad eternam entre querubins rechonchudos e a irmã Lúcia (fogosa e roliça como só ex videntes no paraíso o podem ser); quando o assunto de certos e determinados pecados mortais vier à baila; nessa altura um dos sete grandes vai se destacar em enormes letras flamejantes na minha mortal fronha: a PREGUIÇA.

Sinceramente não me parece que vá dar pulos de alegria. Não por ir arder para todo o sempre no grande lago de fogo. Já vivi uns tempos no vale do forno ali como quem vai para a Pontinha. Não é nada que não esteja já habituado. Não, a minha infelicidade dever-se-ia exclusivamente ao facto de ser condenado à grande estância de férias diabólica, ao clube Med mefistofélico, por causa do mais imbecil de todos os sete pecados e, eh pá, isso não gosto. Não acho bem.

Preguiça...pelo amor de deus! Há pecado mais mormente, mais arrastado, mais sem jeito nenhum do que este? Já estou ver as más línguas bifurcadas dos domínios da perdição : "Olha aquele, condenado à fossa abissal porque era uma ganda calão! LOL!!!"

A sério! Preferia qualquer um dos outros. Vejam a Gula: poder ser um daqueles tipos que aparecem na televisão em programas de freaks, pesando 343,6 kg. Afundado num cadeirão que foi herdado do bisavô materno, com uma mão agarrando uma tarte de maçã king size e a outra enfiada num alguidar recheado de jaquinzinhos fritos. A câmara apontada para minha face rosada e rechonchuda de gigante bom. "Já não saio de casa há mais de dez anos minha cara amiga!", diria eu à repórter curvilínea, enquanto me babo para cima da minha camisola de alças wife beater. "A última vez que sai ainda estavam a construir o metro para Sta Apolónia, veja lá!" Milhões de pessoas no conforto dos seus lares seriam confrontados com toda a minha corpulência, e regurgitariam ao ver me engolir mais uma fatia de pudim flan num único trago. A vida teria sido fofa e açucarada como o algodão doce da feira popular "Ainda havia o poço da morte, veja lá!".

Mas não.

É preguiça mesmo.

Tá mal.

Este não.

Outro.

Qualquer um.

Por exemplo a Luxúria. Isso sim. Orgias e bacanais na melhor tradição europeia clássica. Escapadelas. Pulares de cercas. Infidelidades e imbecilidades num único movimento pélvico. Virgenzinhas, não muito pudicas, na casa de banho do colégio das marianas; betas da linha na praia de Carcavelos, à noite ao som do repuxo gigante; donas de casa boas e não muito desesperadas; e as monjas do carmelo de Coimbra, já olharam bem para as monjas do carmelo de Coimbra??? Rapidinhas. Demoradinhas. Tudo mais que houver pelo meio. Dia e noite. Noite e dia. Esposos e namorados, agraciados com lindos pares de enfeites para a testa, pregando posters com o meu nome pela noite adentro: Procura-se, vivo ou morto, CASTRADO de preferência. Terminar os meus dias num duelo de honra no topo do centro comercial das amoreiras. Uma vida bem vivida antes da danação eterna.

Mas não......somente a preguiça.

Foda-se.

Com tão boas opções na lista.

Olha, a Vaidade: espelho meu, espelho meu, yada, yada e tal e o caralho. Ser o supra-sumo da metro sexualidade, um Beckham odivelense. Saber de trás pra frente marcas de desodorizantes, esfoliantes, anti oxidantes, condicionadores, restauradores e afins. Discutir quais as melhores lavagens ao cólon com a malta do balneário. Parar em frente daquele espelho que há no rossio para se arranjar a gravata, e arrancar num movimento discreto o pelinho que teima em espreitar pela narina. Passar dias nas compras com as amigas, sem sentir tal actividade como um golpe rude na masculinidade. Isso é que era. Para terminar em beleza, apresentar-me-ia diante do todo-poderoso no meu melhor fato Armani e óculos Ray Ban, gritando de forma desafiadora: "Ao menos não compro roupa na feira de Carcavelos oh palhaço!!!"

Nop.

P-r-e-g-u-i-ç-a.

Com todas as letras.

É assim. Foi o que me calhou na rifa. Para todo sempre torturado pelas hordas infernais pelo crime de coçar a micose. É no mínimo patético.




Ah, é verdade, era para ter actualizado esta merda já há uns tempos mas deu me uma preguiççaaaaaaaaaaa!!!

1 comment:

Anonymous said...

Sim Sr!Ora aqui se encontra uma bela prosa, que divulga um dos melhores pecados.Deixa nao te tortures calha a todos, cada um com a sua cruz. Este texto foi um dos melhores que já li teus, pois apresenta questoes pessoais mas também universais de forma intricada e bem cozinhada, Sim sr!Continua!